As companhias brasileiras estão cada vez mais desafiadas a incorporar em seu modelo de risco os efeitos das mudanças climáticas. O caso da varejista Lojas Renner é um exemplo disso. Em um momento, a companhia estava lidando com um inverno de mais de 30 graus em São Paulo, uma temperatura fora da média que afeta a dinâmica de negócio — as peças de inverno, que têm tíquete mais alto, têm menor saída e demandam outra gestão de estoque, além de ajuste em projeção de receita, por exemplo. No momento seguinte, a Renner estava contratando barcos e jet-skis para resgatar funcionários na enchente do Rio Grande do Sul.
Sediada na capital gaúcha, a companhia não tem centros de distribuição na região, mas segue com cerca de 2% das lojas fechadas. A varejista não tem ainda um número do impacto financeiro, mas no primeiro trimestre mostrou desempenho na operação nacional mais robusto — o que deu alívio nas ações. A companhia vinha recebendo reclamação constante dos consumidores sobre patamar de preço, e tem trabalhado para voltar a ser vista como uma marca acessível. Os ajustes no ano passado já se refletiram em aumento de vendas mesmas lojas no início deste ano e melhora na percepção dos clientes.
Segundo o CFO Daniel dos Santos, a companhia tem trabalhado para entregar essa precificação mais adequada mas acompanhando tendências de moda, o que dá maior apelo comercial. A varejista também tem se engajado na discussão setorial que demanda isonomia entre operações locais e varejistas internacionais, como as plataformas chinesas. “Elas têm carga tributária de 17% a 20%, enquanto a Renner e as demais do varejo nacional têm 80% a 90%”, destaca o diretor financeiro. Se o governo não quiser aumentar a taxa na entrada, que diminua a tarifa na produção local, avalia.