Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 05/04/2024

Editoria: Sem categoria
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Onde estão as melhores sobremesas de São Paulo

Uma refeição não termina sem sobremesa, na opinião do cardiologista Sergio Timerman, diretor do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (Incor). “Queijo, pra mim, não é sobremesa. E não existe experiência gastronômica sem finalização. Não é a mesma coisa”, diz, ao eleger o Chocolate Capim Santo do restaurante Nelita como uma das suas sobremesas favoritas.

Conta-se nos bastidores que um renomado restauranteur brasileiro, ao ser questionado por que razão em seus restaurantes a fatia de abacaxi salpicada de hortelã custava tão caro, teria respondido com ironia: “Quem vai aos meus restaurantes e pede abacaxi de sobremesa merece pagar!”.

Timerman concorda: “Só pediria uma fatia de abacaxi se o restaurante fosse muito ruim. Adoro abacaxi, quero deixar bem claro, mas esse é o tipo de coisa que se come em casa. Para fazer um pedido assim, alguma coisa está errada”.

Em seguida, ele relativiza o fato de justamente um cardiologista ter escolhido uma sobremesa tão rica em colesterol: “Eu tenho um conceito de comida. O que faz mal é o excesso. Sempre falo para meus pacientes: ‘Você não está proibido de nada’. Evitar não é proibir. Não vou comer todos os dias chocolate com capim santo. Quando estou comendo fora de casa quero algo que me satisfaça e tenho parcimônia. Não é isso que vai me fazer mais ou menos gordo. Tudo é equilíbrio”.

Escolher uma sobremesa no vasto cardápio paulistano é um desafio. A cidade tem múltiplas opções e uma gastronomia multicultural. Para ter um panorama mais vasto, o Valor escolheu dez pessoas de diferentes profissões para que elegessem suas sobremesas favoritas na cidade. Alguns dos entrevistados atuam em profissões mais próximas da cozinha. Nesse caso, só participaram com o compromisso de não escolher algo ligado aos seus negócios.

Ana Lúcia Serra, fundadora e diretora da Carbono Galeria: Crema di mascarpone al cioccolato, restaurante Gero.

 

“Quase não como sobremesa, mas tem algumas que amo. Em casa, sempre passo batido. Não faço questão e evito para não engordar, mas essa do Gero é minha favorita. Peço sempre que vou jantar em qualquer restaurante do grupo: Gero, Fasano ou Parigi.”

O Crema di mascarpone al cioccolato é prato antigo no Gero. Surgiu entre 1989 e 90 e foi criado na mesma época do tiramisù do grupo. Clássico na Itália, especialmente na Lombardia, o creme de mascarpone é feito com o queijo fresco (mascarpone), que era usado na região como uma alternativa ao creme de leite. O sabor lembra um pouco o tiramisù, mas sem o toque de café e o crocante do biscoito.

Brenda Freitas, pâtissière do grupo Maní: Mousse de chocolate do Beverino

 

“Não sou fã de sobremesas com chocolate, mas essa é surpreendente: levíssima, superaerada, pouco doce e é servida numa temperatura agradável, mais fria. O Beverino é um dos meus lugares preferidos. Tem um ar sofisticado e simplista, atendimento gentil e bons produtos.”

O Beverino é um bar de vinhos naturais que fica no centro de São Paulo. O chef é Luis Felipe Lago, que faz todo o cardápio. Ele explica que na mousse não vai creme, são apenas três ingredientes: chocolate 100% cacau, claras em neve e açúcar mascavo em pequena quantidade.

Bruna Botti, estilista de sapatos: Mil-folhas da confeitaria Dama

 

“Quem me apresentou muitos anos atrás foi um amigo turco, que trouxe a sobremesa para um almoço. Desde então virou um clássico na família. Sou ultradoceira, olho o cardápio de sobremesas antes do prato para escolher o que vou comer e combinar. Restaurante que não tem boa sobremesa, não volto.”

O mil-folhas da Dama já era conhecido antes da abertura da loja física, quando Mariana Gorski e sua cunhada Daniela abriram uma fábrica de doces para terceirizar. “O mil-folhas foi um sucesso instantâneo e nos surpreendeu, porque nem é um doce muito conhecido no país em que todo mundo quer brigadeiro.”

Caroline Putnoki, diretora Atout France: Tarte tatin do Chef Rouge

 

“Como pouca sobremesa porque acho a maioria açucarada demais. A única exceção é a tarte tatin . Aliás, tudo o que o Chef Rouge faz respeita a tradição. Eu cozinho bastante em casa e faço a tatin, com pouco açúcar, como manda o receituário francês.”

Há cerca de 30 anos a tarte tatin está no cardápio do Chef Rouge, conta a dona Vanessa Fiuza. A receita, que é um clássico francês, foi desenvolvida pelo patissier Raimundo Andrade.

Estevan Sartoreli, CEO da Dengo Chocolates: Choux cream da confeitaria Amay

 

“Escolhi a choux cream da Amay pelo teor moderado de açúcar, pela suavidade do creme e pela massa livre de glúten, leve e crocante. Sou daqueles que troca o salgado ou prato principal pela sobremesa. Em casa, evito doces.”

Aya Tamaki foi executiva de multinacionais americanas e japonesas durante 20 anos até se aventurar na sua grande paixão: a doçaria. Para não ter concorrentes, escolheu fazer “yogashi”, os doces inspirados na confeitaria ocidental, especialmente francesa, que por serem menos doces foram adaptados ao paladar japonês. O choux cream feito com fava de baunilha é o carro-chefe da casa.

Henry Araújo, diretor de marketing da importadora Qualimpor: Pudim caramelado de pistache siciliano do Ristorantino

 

“Eu viajo muito, sempre procuro novos restaurantes e sou daqueles ligados em sobremesa. Pudim já é bom. Mas imagina ele menos doce, com pistache e sem farinha de trigo.”

Desde o início, a sobremesa faz parte do Ristorantino Jardins, que está completando dez anos. Agora, foi incluída em todos os cardápios do grupo Trevisani: Ristorantino Riviera e Ristorantino Caffè, no Shopping Pátio Higienópolis.

Mauricio Leme, diretor da divisão de destilados da La Pastina: Tiramisù do Fasano

 

“Essa minha escolha é quase um clichê, porque o tiramisù do Fasano é uma unanimidade. Não sou apaixonado por coisas muito doces, talvez por isso goste tanto dele. Curto a elaboração das sobremesas, mas sou péssimo cozinheiro. Normalmente encomendo sobremesas para comer em casa.”

O tiramisù está no cardápio do Fasano desde a abertura e sempre foi imbatível. A receita atual é da avó do chef Luca Gozzani. Quando chegou ao Brasil, ele reproduziu a receita, mas com uma montagem especial. A sobremesa é montada na hora, leva camadas de mascarpone intercalado com biscoito inglês embebido em café e vinho marsala.

Patrick Martin, diretor da Le Cordon Bleu Brasil: Cajá manga: purê de manga com baunilha, sorbet de cajá manga e coco caramelado do Mocotó

 

“Escolhi essa sobremesa porque amo o Brasil e penso que é importante valorizar e destacar as novas gerações de chefs daqui. O Rodrigo Oliveira é um deles: talentoso e faz essa sobremesa que me encanta.”

Foi a primeira sobremesa escolhida quando estava sendo montado o cardápio do Esquina Mocotó, que não existe mais. Agora, ela está no Mocotó Leopoldina. A proposta de Rodrigo Oliveira era exaltar o cajá e misturar com manga. Quem desenvolveu com ele foi a confeiteira Mariana Dias. “Usamos manga fresca, baunilha, zero açúcar e o coco caramelado. Voltou ao cardápio para celebrar nossos 50 anos”, diz ele.

Sergio Timerman, cardiologista, diretor do Incor: Chocolate Capim Santo do Nelita Restaurant

 

O cardiologista Sergio Timerman, diretor do Incor, elege como seu favorito o Chocolate Capim Santo, do restaurante Nelita, criação da chef Tássia Magalhães — Foto: Keiny Andrade/Valor
O cardiologista Sergio Timerman, diretor do Incor, elege como seu favorito o Chocolate Capim Santo, do restaurante Nelita, criação da chef Tássia Magalhães — Foto: Keiny Andrade/Valor

A sobremesa é uma criação da chef Tássia Magalhães, que começou na gastronomia como confeiteira. É a primeira sobremesa com chocolate do Nelita. “Faço uma torta de chocolate sem farinha, aquecida, tipo mousse, coberta por ganache de capim santo e com uma tuille de leite bem crocante”, diz ela. “Fico muito feliz ao ver que a sobremesa tem ganhado espaço nos cardápios.”

Rosa Moraes, embaixadora de gastronomia da Ânima Educação e presidente no Brasil do The World’s 50 Best Restaurants: Koke Niwa: mousse intensa de chocolate, enoki, matchá e pimenta sanchõ do Aizomê

 

“Acho que a chef Telma Shiraishi faz um belo trabalho que se estende ao cardápio de sobremesas do Aizomê. Adoro o Koke Niwa, que chega à mesa com uma apresentação que lembra um jardim. Vem até com uma delicada pazinha para degustar. É uma mousse intensa de chocolate coberta com ‘pedrinhas’ crocantes de cacau”, diz Moraes, que circula o mundo elegendo as melhores mesas do planeta.

Koke Niwa quer dizer “jardim de musgo”, explica Telma Shiraishi. “Há muito tempo eu queria fazer uma sobremesa que lembrasse um jardim e acabei me inspirando no chão coberto de musgo de um templo em Kyoto, que me impressionou muito pela beleza minimalista”.