Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 15/03/2024

Editoria: Sem categoria
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Promoções puxam vendas e varejo surpreende em janeiro

O crescimento do varejo no início do ano surpreendeu economistas, que esperavam uma estabilidade do setor no começo de 2024. O aumento está ligado às promoções no comércio em janeiro após queda significativa no mês de dezembro, mas também reflete, segundo economistas, a melhora do poder de compra do brasileiro, que cresce com um mercado de trabalho aquecido – com aumento de ocupação e da massa de rendimentos -, transferências de renda, queda de juros e programas de renegociação de dívidas.

A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) apontou alta de 2,5% em janeiro para o varejo restrito, ante dezembro, na série com ajuste sazonal, após contrair 1,4% naquele mês.

O resultado veio bem acima da mediana apurada pelo Valor Data com 27 consultorias e instituições financeiras, que indicava alta de 0,1%. E também superou o teto das estimativas, que iam de queda de 1,1% a alta de 1,7%. A expansão na comparação com janeiro de 2023, o varejo restrito subiu 4,1%.

“A alta de janeiro é resultado de um Natal não tão intenso do ponto de vista de receita das empresas. Dezembro com queda faz com que muitos setores apostem em promoções em janeiro”, diz o gerente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) responsável pela pesquisa, Cristiano Santos.

O segmento do varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, também surpreendeu os analistas. Com aumento de 2,4% na passagem de dezembro e janeiro, descontando os efeitos sazonais, o desempenho ficou acima da expectativa de 24 bancos e consultorias, que esperavam acréscimo de 0,6% segundo a mediana do Valor Data. O intervalo das projeções era de -3,1% e 1,6%.

Comparado com janeiro de 2023, o varejo ampliado subiu 6,8%, acima dos 3,5% da mediana apurada pelo Valor Data.

O economista do Santander Gabriel Couto destaca algum efeito dos programas de transferência de renda. A expectativa do Santander para o crescimento mês a mês do varejo restrito era de 0,8% e para o ampliado 0,7%.

“De maneira geral, estamos vendo uma possibilidade de efeito dos aumentos da renda disponível das famílias no período recente. Isso acaba virando consumo, embora o impacto seja diferente entre as categorias”, explica.

A previsão do banco para fevereiro é que o varejo ampliado tenho resultados positivos, mas em magnitude menor do que foi para janeiro. No restrito, Couto prevê devolução parcial, com tendência mais negativa, mas sem devolver tudo o que cresceu.

Rodolfo Margato, economista da XP, chama atenção para o forte desempenho das vendas de supermercado, alimentos e bebidas, que teve alta de 6,5% na comparação com igual período de 2023.

“Isso corrobora o que temos falado, dos impulsos da renda, seja pela solidez do mercado de trabalho, seja pelas transferências fiscais massivas”, diz.

Embora as surpresas altistas tenham sido disseminadas, Margato ressalta o comportamento do atacarejo, cujo crescimento em relação a igual mês do ano anterior passou de 2,8% em dezembro para 16,1% em janeiro.

As famílias estão pouco a pouco voltando ao crediário”
— Julio Hegedus

O número positivo nas vendas dos segmentos de tecidos, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos e produtos de informática e educação indica que o ciclo de queda dos juros tem ajudado o setor, aponta o economista Julio Hegedus da Mirae Asset.

“São produtos sensíveis ao crédito, o que mostra que as famílias estão pouco a pouco voltando ao crediário, também com a ajuda dos programas de repactuação de dívida”, diz.

A melhora gradual das condições de crédito também é a aposta da Tendências Consultoria para um desempenho mais vistoso do varejo nos próximos meses.

“Acreditamos que o crescimento vai ficar mais consecutivo somente no segundo semestre. Compras de maior valor, como eletrodomésticos e material de construção, ainda se recuperam do ano passado e devem melhorar somente mais à frente”, diz Isabela Tavares, economista da Tendências.

Apesar da surpresa positiva, a Tendências não deve mudar, ao menos por enquanto, suas projeções. A consultoria estima alta de 2,5% para o varejo restrito em 2024 e 2,7% no conceito de varejo ampliado.