O desempenho do varejo é sempre mais fraco em janeiro quando comparado a dezembro, o mês do Natal e dos presentes de fim de ano. Mas, desta vez, aconteceu uma dessas surpresas em busca de explicação.
A Pesquisa Mensal do Comércio apontou em janeiro crescimento no volume de venda do comércio varejista de 2,5% no segmento restrito (que exclui o comércio de veículos e de materiais de construção) e de 2,4% no segmento ampliado, muito acima do que previam os analistas, que apontavam algo em torno de 1,6%. Na base anual, os números também saltaram para 4,1% e 6,8%, respectivamente – os melhores desde 2014.
O primeiro impulso dos comentaristas foi atribuir essa esticada ao despejo de R$ 30 bilhões em pagamentos de precatórios (antigas dívidas por desapropriações e decisões judiciais). Como, no entanto, os beneficiários desses precatórios se concentram nas faixas mais altas de consumo, essa explicação parece insuficiente. Pode ter mais a ver com certo represamento no consumo em período anterior.
Esses resultados podem sugerir que há renda capaz de impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, depois do avanço de 2,9% registrado em 2023. O baixo nível do desemprego reforça essa hipótese. Mas é preciso ir mais devagar com esse andor.
Pela ótica da oferta, o crescimento do PIB em 2023 ficou muito concentrado na agropecuária, que cresceu 15,1%, e na indústria extrativa (petróleo e minérios), que cravou 8,7%. Mas, desse ponto de vista, as perspectivas para 2024 são mais para o negativo.
Tanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como o IBGE apontam queda física das safras de grãos nesta temporada da ordem de 5% a 7%, em consequência das mudanças climáticas. Como os preços das commodities agrícolas seguem em queda, o impacto sobre o faturamento do setor também tende a ser relevante. Com isso, a pujante área de serviços ligada ao agronegócio (como transportes, armazenamento, assistência técnica e serviços pessoais) também tende a sofrer um baque.
Além disso, o insatisfatório desempenho do investimento não puxa pelo aumento da produção.
Por enquanto, o mercado auscultado pela Pesquisa Focus, do Banco Central, continua apostando num avanço do produto e da renda neste ano de 1,9%.
Mas o governo Lula parece preocupado com os efeitos da desaceleração do PIB sobre as eleições deste ano e vai sendo pressionado pelo PT raiz a despejar mais recursos na economia e tapar os ouvidos para os apelos da área econômica pelo ajuste fiscal. O desempenho do PIB deste ano depende de qual acabará por ser a decisão final do presidente Lula.