Veículo: Estadão - Online
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Data: 15/03/2024

Editoria: Sem categoria
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O salto do varejo e o PIB deste ano

O desempenho do varejo é sempre mais fraco em janeiro quando comparado a dezembro, o mês do Natal e dos presentes de fim de ano. Mas, desta vez, aconteceu uma dessas surpresas em busca de explicação.

Pesquisa Mensal do Comércio apontou em janeiro crescimento no volume de venda do comércio varejista de 2,5% no segmento restrito (que exclui o comércio de veículos e de materiais de construção) e de 2,4% no segmento ampliado, muito acima do que previam os analistas, que apontavam algo em torno de 1,6%. Na base anual, os números também saltaram para 4,1% e 6,8%, respectivamente – os melhores desde 2014.

O primeiro impulso dos comentaristas foi atribuir essa esticada ao despejo de R$ 30 bilhões em pagamentos de precatórios (antigas dívidas por desapropriações e decisões judiciais). Como, no entanto, os beneficiários desses precatórios se concentram nas faixas mais altas de consumo, essa explicação parece insuficiente. Pode ter mais a ver com certo represamento no consumo em período anterior.

Esses resultados podem sugerir que há renda capaz de impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, depois do avanço de 2,9% registrado em 2023. O baixo nível do desemprego reforça essa hipótese. Mas é preciso ir mais devagar com esse andor.

Pela ótica da oferta, o crescimento do PIB em 2023 ficou muito concentrado na agropecuária, que cresceu 15,1%, e na indústria extrativa (petróleo e minérios), que cravou 8,7%. Mas, desse ponto de vista, as perspectivas para 2024 são mais para o negativo.

Tanto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) como o IBGE apontam queda física das safras de grãos nesta temporada da ordem de 5% a 7%, em consequência das mudanças climáticas. Como os preços das commodities agrícolas seguem em queda, o impacto sobre o faturamento do setor também tende a ser relevante. Com isso, a pujante área de serviços ligada ao agronegócio (como transportes, armazenamento, assistência técnica e serviços pessoais) também tende a sofrer um baque.

Além disso, o insatisfatório desempenho do investimento não puxa pelo aumento da produção.

Por enquanto, o mercado auscultado pela Pesquisa Focus, do Banco Central, continua apostando num avanço do produto e da renda neste ano de 1,9%.

Mas o governo Lula parece preocupado com os efeitos da desaceleração do PIB sobre as eleições deste ano e vai sendo pressionado pelo PT raiz a despejar mais recursos na economia e tapar os ouvidos para os apelos da área econômica pelo ajuste fiscal. O desempenho do PIB deste ano depende de qual acabará por ser a decisão final do presidente Lula.