O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse à Folha que a entidade precisa ter autonomia financeira para aprimorar seu “arcabouço de autonomia”.
Entenda: o BC passou a ter autonomia operacional há três anos. A autarquia, porém, depende da verba prevista no Orçamento da União para negociar aumento de salários de servidores e outros gastos.
↳ Campos Neto defende que a instituição tenha também autonomia financeira para evitar um “derretimento” dos quadros do banco. Ele disse que as recentes greves de servidores sobre reajustes salariais atrapalharam muito o funcionamento interno do BC
↳ Para avançar com a pauta, a autarquia defende a aprovação de uma PEC no Senado que garante autonomia financeira ao BC.
↳ O governo é contra, e Campos Neto tratou do assunto com Haddad depois de um período em que não se falaram.
“Eu tentei dar conforto para ele, que o BC tem flexibilidade, que a gente pode discutir, que nada vai ser feito à revelia”, diz o presidente do BC.
Reação: a presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que a proposta de autonomia ampla é uma “ditadura monetária”.
Sobre o que mais Campos Neto falou com a Folha:
Corte de juros:
“A expectativa de inflação está um pouco acima da meta, quando a gente olha os componentes de inflação, não tem certeza do processo de inflação amplo. Por várias razões entendemos que as taxas de juros precisam estar no campo restritivo [que freia o processo inflacionário]. Isso é uma coisa que avaliaremos a cada momento no Copom.”
Mercado de trabalho:
“No pós-pandemia, o mercado de trabalho recuperou muito mais rápido do que se imaginava e está apertado em grande parte do mundo, nos EUA, no Brasil. Apertado significa que o desemprego está mais baixo do que o que se esperava”.
PIB:
“A evidência que a gente tem até agora é que o primeiro trimestre deve ter um PIB maior, inclusive as casas [do mercado] têm revisado o crescimento de 2024 para cima.”
Leia a entrevista completa aqui.
MUSK X ALTMAN
Elon Musk entrou com um processo contra a OpenAI e seu CEO Sam Altman com o argumento de que a companhia comprometeu seu objetivo original ao priorizar o lucro em vez do benefício à humanidade.
O bilionário que comanda a Tesla e outras startups –entre elas a xAI, uma rival da OpenAI– também atacou a empresa por ter a Microsoft como sua principal investidora.
“A OpenAI foi transformada em uma subsidiária de fato de código fechado da maior empresa de tecnologia do mundo: a Microsoft”.
A big tech usa as ferramentas de IA da startup –principalmente o ChatGPT– em seus produtos, como no navegador Bing e na versão “Copiloto” do pacote Office.
Entenda: a discussão retoma a polêmica sobre a OpenAI e sua estrutura de governança bem atípica.
↳ Ela foi criada em 2015 por Altman, Musk e outros titãs da tecnologia como uma entidade sem fins lucrativos, com o compromisso de prezar pelo avanço seguro da tecnologia e pelo seu benefício à humanidade.
↳ Abaixo dela está uma subsidiária com viés de lucro –é a que rentabiliza o ChatGPT, recebeu investimento da Microsoft, e estaria avaliada em US$ 86 bilhões (R$ 426,09 bilhões).
Essa divisão foi o principal motivo dos atritos que geraram a demissão e o retorno de Sam Altman ao posto de CEO da OpenAI no fim do ano passado.
Falei nesta edição sobre como a vitória do executivo na queda de braço contra os defensores de um avanço mais lento da tecnologia deram ainda mais força ao braço lucrativo da OpenAI.
Musk deixou o conselho da empresa em 2018 após desentendimentos com Altman sobre o rumo das pesquisas com IA. Ele afirma no processo que doou US$ 44 milhões à startup.
Mais sobre Sam Altman:
Como o CEO da OpenAI construiu sua fortuna mesmo sem ter uma ação sequer da startup de IA.
NOVA BOLSA NO BRASIL?
O Brasil pode ter uma nova Bolsa de Valores até o próximo ano. É o que reporta a agência Bloomberg, citando fontes.
Entenda: a concorrente da B3 (atual operadora da Bolsa brasileira) seria a ATG (Americas Trading Group), que foi comprada pela gestora árabe Mubadala Capital em fevereiro de 2023.
O Mubadala é ligado ao fundo soberano de Abu Dhabi e tem uma série de investimentos no Brasil.
Não é a primeira vez que a ATG se movimenta para criar uma concorrente para a B3.
Em 2013 ela firmou uma parceria com a Bolsa de Nova York (Nyse) para criar uma nova Bolsa por aqui, mas o negócio não foi para frente.
Relembre: os investidores brasileiros já conviveram com Bolsas de Valores diferentes, nos dois principais centros financeiros do país.
↳ A do Rio inclusive era a mais importante na segunda metade do século 20, mas começou a perder protagonismo para a antiga Bovespa com a queda das Bolsas em 1971.
↳ O esvaziamento se intensificou a partir de 1989, com o episódio do rombo de US$ 400 milhões em cheques sem fundos do investidor Naji Nahas.
↳ Em 2000, a centralização do mercado acionário brasileiro na Bovespa arrematou o processo.
Mais sobre investimentos:
Analistas apontam ações do agro e do setor automotivo como principais beneficiadas da nova política industrial do governo.
Opinião | Marcos de Vasconcellos: Falas de Lula e Prates sobre Vale e Petrobras enriqueceram especuladores e ignoraram o que importa; leia a coluna.
STARTUP DA SEMANA: CROMAI
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada em 2017, a agtech (startup do agro) usa IA (inteligência artificial) para identificar plantas daninhas no campo e indica o melhor jeito de combatê-las.
Em números: a Cromai anunciou ter recebido um aporte de R$ 12 milhões em uma rodada série A (entenda aqui as etapas de investimento em startups).
Quem investiu: a empresa de tecnologia Totvs, por meio de seu fundo de corporate venture capital (veículo usado por companhias para investir em startups).
Que problema resolve: a agtech desenvolveu um banco de imagens com mais de 90 milhões de imagens categorizadas por tipos de plantas daninhas, em diferentes estágios da cultura, de plantações de cana-de-açúcar e soja.
O produtor rural insere imagens da sua plantação e a IA da Cromai identifica o tipo de planta daninha, além de sugerir produtos e quantidades necessárias para seu controle.
Por que é destaque: as plantas daninhas causam uma perda média de 13% a 15% na produção de grãos, mas ela pode chegar a 90% se não houver controle algum, segundo a Embrapa.
A Cromai afirma que sua solução pode gerar uma economia de até 65% no uso de defensivos agrícolas. O aporte deve levar a startup a expandir sua atuação para os mercados de algodão e milho.
Pelo potencial do país no setor, as agtechs são um dos focos apontados pelos investidores de risco na retomada de investimentos em startups brasileiras.
O diagnóstico é de que o setor está sub-representado nas carteiras dos fundos em relação a sua participação no PIB nacional.
No ano passado, havia 798 agtechs ativas no Brasil, segundo levantamento da Liga Ventures com Bunge e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária).