Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 21/02/2024

Editoria: Sem categoria
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Operadora do Burger King no país negocia Starbucks

A Zamp, master franqueada e operadora no país do Burger King e do Popeyes, negocia acordo para adquirir a licença de operação da Starbucks no Brasil junto à matriz americana, em conversas que se iniciaram em dezembro, apurou o Valor. Além da empresa, outras duas cadeias de restaurantes sondaram representantes da rede de cafeterias na sede, em Seattle, para verificar espaço para algum acordo.

Sócio da Zamp, o fundo árabe Mubadala estaria em conversas diretas com a rede americana, afirmou uma fonte.

Outra pessoa a par do tema afirma que, em paralelo, há contatos também para a venda da operação da Starbucks no Brasil, que ainda está nas mãos da SouthRock Capital, empresa que foi master licenciada da cadeia no país de 2018 a 2023. A companhia, que ainda operava restaurantes em aeroportos e o TGI Fridays, pediu recuperação judicial em novembro por conta de dívidas totais de R$ 1,8 bilhão.

“A ideia é tentar um acordo lá fora e, então, amarrar algo por aqui”, diz uma pessoa com conhecimento das conversas. “Até porque, obter a licença e manter as lojas com a SouthRock, nessa situação de operação deteriorada como eles estão, seria um ‘deal’ meio ruim para quem entrar”, disse essa fonte.

A complexidade da operação, por envolver marcas que estão em recuperação judicial e a má gestão da SouthRock, tem sido um empecilho para que as negociações sejam concluídas mais rapidamente, segundo fontes.

Já em relação aos contatos envolvendo a licença, uma fonte afirma que as conversas entre Zamp e a matriz da Starbucks avançaram nas últimas semanas.

Segundo o plano de recuperação judicial da SouthRock, protocolado em 9 de fevereiro na Justiça de São Paulo, são 135 lojas em operação, e foram fechadas cerca de 55 lojas ao longo de 2023, que operavam de forma deficitária. Ainda foi feito um corte de 20% da equipe administrativa ligada à marca.

No atual plano em negociação com credores da SouthRock está em discussão a criação de UPI, as chamadas “unidades produtivas isoladas”, concebidas especialmente para a alienação dos negócios, que pode ocorrer via leilão. Mas caso a empresa obtenha uma proposta pela operação, pode levar as condições aos credores e à Justiça. E esta seria a ideia de Kenneth Pope, fundador da SouthRock, a depender dos valores a serem oferecidos, apurou o Valor.

A Zamp chegou a analisar, anos atrás, trazer a marca de cafés e donuts Tim Hortons ao Brasil, que pertence à empresa RBI, também sócia da Zamp. Ocorre que a falta de visibilidade da marca e os trabalhos focados da Zamp na expansão do Popeyes deixaram o plano na gaveta – a questão de destaque de marca não seria um problema em relação à Starbucks, que virou fenômeno de vendas logo após a entrada no país.

Na Zamp, o Mubadala Capital, por meio do veículo MC Brazil, tem 36,6% das ações da rede, e nas últimas semanas, fez um movimento de retirada da empresa do Novo Mercado, algo que, para alguns gestores, pode ter relação com alguma aquisição de peso da cadeia.

A proposta foi aprovada em assembleia geral extraordinária de acionistas no mês passado.

Para duas gestoras ouvidas pela reportagem, esta poderia ser uma forma de incorporar a Zamp dentro de uma nova companhia adquirida, algo que não é permitido pelas regras de Novo Mercado. Empresas no mais alto nível de governança da bolsa só podem ser incorporadas por outras que estejam nesse mesmo nível na B3.

A Starbucks no Brasil acumulava R$ 336 milhões em empréstimos e R$ 480 milhões em vendas líquidas anuais, indica laudo

 

Valor apurou que a RBI, com 9,4% das ações da Zamp por meio da Burger King do Brasil, votou favoravelmente à proposta do Mubadala pela saída da Zamp do Novo Mercado. Os dados constam em declaração de voto dos acionistas arquivado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A 3G Capital, dos acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, tem 29% da RBI – dona da marca Burger King no mundo.

Procurada, a SouthRock não se manifestou. A Zamp também preferiu não comentar.

Laudo do administrador judicial Laspro Consultores mostra a Starbucks no Brasil com R$ 701 milhões em passivos totais (fornecedores, salários, financiamentos, entre outros), segundo dados até junho de 2023. Apenas em empréstimos e financiamentos eram R$ 336 milhões.

A SouthRock mencionou à Justiça os efeitos da crise após a pandemia como fator determinante para a recuperação, como a alta dos juros e a queda nas vendas em 2021 e 2022. No caso da Starbucks, o laudo mostra receita em crescimento.

Em 2020, a receita líquida alcançou R$ 137 milhões, indo a R$ 240 milhões no ano seguinte, e em 2022, totalizou quase R$ 484 milhões, o dobro de 2021. Em 2023, até junho, foram R$ 261 milhões, e o patrimônio líquido era positivo.

Em seu plano de recuperação judicial publicado neste mês, a SouthRock apresentou condições de pagamentos a seus credores quirografários (sem garantia real), incluindo os bancos, que são os principais donos de dívida da empresa. Para esse grupo, a empresa pede período de cinco anos de carência para não pagamento do valor principal e encargos, contados a partir da homologação do plano.

A proposta é de que, após a carência de cinco anos, ocorreria o pagamento em 16 anos, ou seja, terminando em 2045, sendo uma parcela por ano, em valores consecutivas e crescentes. Até o 15º ano, será pago 40% da dívida e no 16º ano, os 60% restantes.

Só que, caso a empresa pague pontualmente nos 15 anos, a parcela final (60% restantes) não será quitada – o chamado bônus de adimplência. Nesse grupo de credores sem garantias, especificamente, da Starbucks estão ABC, Banco do Brasil, Daycoval, Itaú Unibanco, Modal, Pine, Santander, e Votorantim segundo a lista disponibilizada no processo.