Para qualquer varejista de moda, é uma viagem ao futuro — e uma apresentação ao que já é o presente. Na coluna de hoje, trago alguns highlights do que o estudo da ADVISIA OC&C Strategy Consultants concluiu e do que deve vir por aí no varejo.
Em uma das esquinas mais nobres da Quinta Avenida, em Nova York, uma loja de seis andares apresenta tudo o que é mais inovador no varejo de moda mundial. A “House of Innovation” é uma loja conceito da Nike que pode ser confundida com um museu da moda ou até uma arena esportiva. Desde a entrada, a Nike faz questão de conectar os visitantes aos produtos e à marca, tanto de forma física como virtual para proporcionar uma experiência totalmente imersiva e personalizada aos clientes.
ara qualquer varejista de moda, é uma viagem ao futuro — e uma apresentação ao que já é o presente. Na coluna de hoje, trago alguns highlights do que o estudo concluiu e do que deve vir por aí no varejo.
M&A: De volta às compras?
O setor de varejo de moda lidou no último ano com condições desafiadoras, marcadas por níveis elevados de inflação e altas taxas de juros. Esses fatores criaram um cenário em que os consumidores estão menos inclinados a gastar, e os custos de repasse se tornam mais difíceis.
Nesse ambiente de demanda suavizada, os varejistas de moda estão experimentando um crescimento mais lento e estão adiando estrategicamente os planos, priorizando a conservação do caixa e a sustentabilidade das margens. Em novembro, o setor de varejo global de vestuário registrou 82 transações, refletindo uma queda de 42% em comparação com o mesmo período de 2022. Esta tendência descendente é evidente em todas as geografias, destacando as pressões prevalecentes na indústria.
Ao contrário do Brasil e dos EUA, o Reino Unido se destaca com empresas robustas e estáveis como Frasers Group e NEXT liderando uma onda de aquisições na rua. Essas empresas estão capitalizando inúmeras oportunidades que surgiram no cenário pós-pandemia. A expectativa para 2024 é que com maiores estabilidades, as aquisições retomem e o mercado de M&A fique mais aquecido!
No setor global de varejo de vestuário, a avaliação mediana tem sido consistentemente em torno de 9,0x para EV/EBITDA e 1,0x para EV/Receita em várias transações. Não é novidade que o múltiplo EV/EBITDA, comumente utilizado para avaliações de transações, tende a ser menor no Brasil em comparação com o Reino Unido e EUA.
O impacto das altas taxas de juros e a necessidade de contabilizar o risco-país contribuem para a redução do valuation das empresas no mercado emergente do Brasil. Por outro lado, nas economias mais estáveis dos EUA e do Reino Unido, as empresas desfrutam de avaliações mais elevadas devido às condições econômicas favoráveis.
O impacto da tecnologia no setor
Para se antecipar no mercado brasileiro, é importante conhecer o que tem dado certo lá fora e adaptar as tendências ao perfil próprio do consumidor nacional. Além da realidade mista da loja conceito da Nike, o relatório destaca que a inteligência artificial está cada vez mais acessível para médios e pequenos varejistas.
A partir da fabricação, a IA está sendo usada para que as companhias otimizem seus estoques de acordo com a demanda do mercado, tanto em tamanho do estoque como na previsão do que fará sucesso na próxima temporada. Caso da rede H&M, que realiza a análise preditiva com ajuda da IA para prever o que será tendência para os lançamentos futuros.
Nas compras online é possível perceber a evolução da Web 3.0 a partir da interatividade com realidade mista e aumentada. Afinal, quem havia imaginado a possibilidade de provar roupas e sapatos de forma digital? Cada vez mais presentes, os provadores virtuais acabam com a insegurança que muitos tinham ao comprar online.
Criação de cenários para exposição virtual dos produtos, simulação de tecido de roupas e ferramentas de feedback instantâneo são outras novidades proporcionadas pela IA no setor.
As tendências para varejistas
Com ajuda de plataformas especializadas no e-commerce, como a Nuvemshop, essas ferramentas de interação entre o consumidor e o produto não ficam restritas apenas às grandes varejistas do país, deixando mais acessíveis softwares para empresas menores.
No Brasil, gigantes do setor, como Marisa (AMAR3), Renner (LREN3) e Guararapes (GUAR3) têm investido em serviços financeiros oferecidos por fintechs, principalmente por startups que ampliam o acesso ao crédito para clientes, com possibilidade de driblar esse cenário de alta inadimplência, inflação e taxa de juros.
Em meu último artigo publicado aqui na BM&C, abordei como as políticas de ESG (Environmental, Social and Governance) influenciam diretamente nas negociações para fusões e aquisições de empresas. Na indústria da moda, a sigla também tem assumido papel importante para atender um novo perfil de consumidores.
A começar pela matéria prima das roupas: tem aumentado a produção com materiais sustentáveis, como algodão orgânico de produtores certificados, fibras recicladas e alternativas ao couro.
Seguindo essa linha, cresce o mercado de segunda mão, que tem movimentado brechós nas cidades, mas principalmente em marketplaces focados em produtos usados — como o Enjoei, o Repassa e o Emigê (da varejista online Dafiti). Esses movimentos refletem o desejo dos consumidores por escolhas mais sustentáveis, buscando variedade e economia devido aos preços reduzidos de itens de segunda mão.
Outra tendência que tem desenhado o mercado é o uso das redes sociais e de influenciadores digitais como uma alternativa aos altos custos de publicidade digital no Google e no Facebook. O Brasil, inclusive, é o país onde o público mais “ouve” as recomendações de influenciadores na hora de comprar um produto — em 2022, 45% dos brasileiros fizeram compras baseadas nessas sugestões.
Em paralelo a tantas novidades e tendências, surgem novos desafios para o varejo de moda. O primeiro deles, claro, é conseguir adotar todas as novas tecnologias disponíveis para otimização dos negócios. Em seguida, a concorrência internacional de um mercado representado pela chinesa Shein — que se aproximou de US$ 1,5 bilhão em receita em 2022. Através da análise de dados e tendências, os varejistas podem incorporar tecnologias e práticas que podem resolver problemas logísticos e se adaptar às exigências flutuantes de um perfil cada vez mais engajado de consumidor do mercado da moda. Para conhecer melhor essas dinâmicas e se aprofundar nas tendências do varejo da moda, recomendo o relatório internacional.