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Data: 23/01/2024

Editoria: Sem categoria
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Análise: Expectativas de inflação para 2025 estão paradas em 3,5% há seis meses

As expectativas de inflação do mercado financeiro para 2025 estão paradas em 3,5% há meio ano, alimentando o risco de se consolidarem num patamar acima da meta e influenciarem negativamente a formação de salários e preços na economia.

Dados do boletim Focus, divulgados pelo Banco Central nesta manhã, mostram que há 26 semanas as expectativas de inflação interromperam a breve trajetória de queda observada depois que o governo manteve a meta de inflação de longo prazo em 3% e apresentou no novo arcabouço fiscal.

O período de desancoragem das expectativas, porém, é mais longo. A inflação prevista para 2025 deu os primeiros sinais de desancoragem a partir do segundo semestre de 2022. Na época, havia dúvidas sobre a capacidade de o Banco Central perseguir as metas e também incertezas sobre a política fiscal do governo eleito naquele ano. No pico, as expectativas chegaram a 4%.

O Banco Central colocou entre as suas prioridades reancorar as expectativas de inflação na meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Sua estratégia é seguir cortando os juros, mas mantendo a política monetária em patamar contracionista pelo tempo necessário para fazer as projeções de mercado convergirem para 3%.

Há duas semanas, o diretor de política econômica do Banco Central, Diogo Guillen, chamou a atenção para o risco de as expectativas de inflação desancoradas contaminarem as negociações salariais, o que poderia transbordar na definição de preços pelas empresas, em especial os serviços.

Na sua comunicação oficial, o Banco Central sustenta que está ocorrendo uma desancoragem gêmea das expectativas. Um estudo do BC mostra que, no geral, os mesmos analistas econômicos que duvidam do cumprimento das metas de superávit primário definidas pelo governo também estão céticos sobre o cumprimento das metas de inflação.

O Banco Central também constatou, no mesmo estudo, que os analistas que projetam inflação internacional mais alta também preveem que o índice de preços será maior no Brasil. Essa correlação, porém, parece ter perdido força mais recentemente. Desde fins do ano passado, os prognósticos para a inflação nas economias desenvolvidas melhoraram. No Brasil, houve queda apenas nas expectativas de inflação para anos mais imediatos, sem mudar as expectativas longas.

Como resolver o problema da desancoragem? Na teoria, há mais de um caminho para as expectativas longas convergirem para as metas. Um deles é uma forte e prolongada queda da inflação corrente, dentro ou abaixo do objetivo. Outras formas são a mudança de direção na política econômica de forma geral, incluindo o manejo das contas públicas, ou uma política monetária mais austera.

A história mostra que, em geral, a reancoragem exige um trabalho penoso. O último período prolongado de desancoragem das expectativas de inflação ocorreu durante o governo Dilma Rousseff. Na época, a situação saiu dos trilhos por influência tanto da política monetária, já que o Banco Central era percebido como menos independente, quanto do afrouxamento da âncora fiscal, com o desmonte dos superávits primários.

Um exame mais cuidadoso desse período, porém, mostra que, na verdade, ele foi dividido em duas fases de desancoragem. A primeira delas ocorreu a partir de agosto de 2011, quando o Banco Central deu o chamado cavalo-de-pau na política monetária – interrompendo um ciclo de alta para baixar a taxa Selic de forma acelerada, alegando que a economia mundial iria sofrer uma impacto desinflacionário em virtude de uma crise fiscal na periferia da Europa.

Essa fase de desancoragem se prolongou até junho de 2015, quando o Banco Central surpreendeu o mercado com um aperto monetário mais forte do que o previsto, colocando os juros em 14,25% ao ano. As expectativas de inflação para 2018 e 2019 caíram para a meta, então de 4,5%.

Mas a desancoragem das expectativas voltou a ocorrer em setembro de 2015, com a falta de resultados da estratégia de ajuste fiscal e o enfraquecimento político do governo Dilma. As expectativas voltaram a se ancorar nas metas no governo Temer, com a mudança na política fiscal e a política monetária austera.