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Data: 15/12/2023

Editoria: Sem categoria
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Em queda, varejo confirma desaceleração da economia no último trimestre do ano

O volume de vendas no varejo veio abaixo do esperado em outubro e confirma expectativa de atividade enfraquecida no último trimestre do ano. Uma recuperação maior do comércio é esperada só para o decorrer de 2024, apontam especialistas.

O varejo restrito teve queda de 0,3% em outubro, ante setembro, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado veio abaixo do piso das projeções coletadas pelo Valor Data junto a 26 consultorias e instituições financeiras, que iam de -0,2% a +1,8%, com mediana de +0,3%. Em setembro, frente a agosto, o comércio restrito tinha avançado 0,5%, com dado revisado após divulgação original de alta de 0,6%. Na comparação com outubro de 2022, o varejo restrito avançou 0,2%.

No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, material de construção e atacarejo, o volume de vendas caiu 0,4% na passagem entre setembro e outubro, já descontados os efeitos sazonais. A mediana do Valor Data indicava alta de 0,2%, com intervalo das projeções que ia de queda de 0,5% a alta de 1%.

O desempenho do varejo restrito em outubro foi classificado como “estabilidade” pelo instituto. Em comunicado sobre a PMC, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, informou que o comportamento do setor em outubro é semelhante ao que era observado no período anterior à pandemia, no comércio.

Surpresa não é grande porque confirma a desaceleração”
— Helena Veronese

Ele destacou também o saldo positivo das vendas do comércio em períodos acumulados. As vendas no varejo restrito sobem 1,6% no ano até outubro, e acumulam alta de 1,5% em 12 meses, até outubro. “Mas, num cenário de médio prazo, a perspectiva está positiva, com crescimento nos acumulados do ano e em 12 meses”, comentou, no comunicado.

Para Rodolpho Tobler, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o desempenho do varejo em outubro deixa claro um cenário de comércio andando de lado em 2023, sem capacidade de reação mais forte, mesmo com inflação mais baixa, estímulos fiscais e mercado de trabalho favorável.

Quando é retirado o mês de janeiro da conta, que veio mais forte, o resultado é de alta de 1,1% no acumulado do ano até outubro contra igual período de 2022, diz Tobler. Houve um desempenho melhor em supermercados e hipermercados em algum momento do ano, mas em outubro já houve queda de 1% em relação a setembro, com ajuste sazonal.

No varejo ampliado, aponta, a venda de veículos também teve desempenho melhor no primeiro semestre, sob os efeitos do programa do governo federal para incentivo de vendas do setor automobilístico. Esses movimentos mais específicos não mudaram a trajetória fraca do comércio do ano.

A queda do varejo em outubro faz parte de um conjunto de dados sobre dados de consumo indicam esfriamento da atividade doméstica no começo do quarto trimestre deste ano, aponta Leonardo Costa, economista da ASA Investments. Na média móvel trimestral, diz o economista, o crescimento é próximo de zero.

“Há uma surpresa no varejo em outubro, mas a surpresa não é grande porque confirma a desaceleração esperada para o último trimestre, com atividades mais sensíveis à renda e ao crédito como supermercados e vestuário, com quedas em outubro”, diz a economista Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Segundo ela, desempenho do varejo em outubro surpreendeu negativamente, mas confirma a desaceleração esperada para o fim do ano.

A desaceleração, diz, reflete a alta inadimplência, apesar do início da queda da taxa básica de juros e do programa Desenrola, que tem efeitos mais limitados e direcionados às faixas de menor rendimento. “O dado de varejo mostra que a primeira prioridade das famílias é tirar seu nome da inadimplência e depois voltar ao consumo.”

O indicador de varejo deve contribuir para a revisão para baixo da projeção de queda de 0,15% da gestora para o PIB do último trimestre do ano, diz Veronese. Ela lembra que a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada na quarta-feira, também trouxe resultado abaixo do esperado, com queda de 0,6%.

Para Tobler, do Ibre, não há perspectiva de mudança de quadro em 2023, Dados de confiança e resultados de desempenho divulgados pelo setor mostram que a Black Friday veio aquém do esperado. “Há uma aceleração sazonal de fim de ano, mas em 2023 isso não deverá ser melhor que o habitual. Não dá para esperar um super Natal.” Uma melhora maior deve ficar para 2024, avalia, mas de forma modesta.

Veronese tem avaliação semelhante. O primeiro trimestre de 2024 ainda deve mostrar efeitos dos juros altos, com o afrouxamento monetário trazendo resultado gradual no decorrer do primeiro semestre. Somente na segunda metade do próximo ano, avalia ela, deverá haver efeitos mais visíveis do corte de juros, com um processo um pouco mais avançado da saída das famílias da inadimplência.