O mercado de luxo no Brasil movimentou mais de R$ 70 bilhões em 2022. Números tão altos e complexos mereciam uma análise mais profunda que não fosse só focada em um nicho específico ou no comportamento de consumo dos brasileiros. Por isso, a Bain & Company em parceria com a Vogue e o Valor realizaram um mapeamento desse cenário, que cresce 18% ao ano desde 2018.
“Falamos muito sobre luxo, mercado, mas sempre faltavam os números. A preocupação era fazer uma coisa que não fosse apenas um catálogo, mas que tivesse uma visão mais geral do mercado de luxo no país, com uma clareza quantitativa”, explica Livia Moura, sócia da Bain & Company.
O documento, lançado nesta semana, segmenta o luxo em 9 categorias: moda e itens pessoais (que inclui joias e produtos de beleza), imóveis, automóveis, saúde, aeronaves privadas, iates, fine art, hotéis e bebidas finas. Nele, também são abordados desempenho de mercado, no período de 2018 a 2022, estimativas de evolução para os próximos anos e tendências relevantes para cada nicho. Tudo sob a ótica dos chamados High Network Individuals (com mais de US$ 1 milhão em ativos líquidos) ou os afluentes (acima de US$ 100 mil em ativos líquidos), “pessoas muito diferentes com interesses diversos em cada segmentos”, aponta Livia.
“A nossa definição de luxo foi com base nas marcas. Então, marcas que têm essa percepção de luxo e, de forma geral, globais. Quando a gente fala de real estate, por exemplo, o delimitador foi a faixa de preço: imóveis acima de 3 milhões de reais. Em automóveis, usamos uma mistura desses dois elementos, marcas reconhecidas e um recorte de preço”, explica ela.
Já a saúde foi mapeada de outra forma. Os especialistas elencaram os melhores planos de saúde que estão disponíveis, depois cruzaram com informações de onde eles são aceitos para, então, chegarem nos hospitais e laboratórios exclusivos desse top tier. E Fine Art, por sua vez, focou nos relatórios globais do segmento, excluindo itens decorativos e antiguidades.
“Um dos dados mais interessantes que apresentamos com esse levantamento é o de quem são os High Network Individuals. Olhando friamente, são 92% homens, 75% acima dos 50 anos e 80% residentes do sudeste do país. Porém, quem está tomando as decisões de compra não é necessariamente essa pessoa, mas também a esposa e os filhos. O consumo, portanto, é da família e não de um CPF só”, explica Lívia.
Para Karla Freitas, Senior Manager na Bain & Company, a provocação da pesquisa mora exatamente nesse ponto. “Olhando para frente, projetamos uma descentralização desse consumo. Por muitos anos, se você quisesse ter um item de luxo, teria que viajar para São Paulo para conseguir comprar ou para o exterior. Agora, vemos uma oportunidade das marcas irem até as pessoas, em formatos de multimarcas, online, showrooms ou loja própria.” Segundo ela, existe uma provocação no limite da indústria que é “como olhar para o número de onde essa riqueza está localizada para mudar a estratégia que não vai ser só oferta-demanda, mas uma retroalimentação da demanda e da oferta”, diz Karla. “Há muito espaço ainda [para o crescimento].”
Dentro disso, outro dado importante para a pesquisa é que, de 2014 para cá, o número de HNI e afluentes quase duplicou e os ativos nas mãos desses indivíduos também duplicou. “Mas, quando olhamos para 2030, o crescimento será no número de ativos de cada pessoa mais do que o número de pessoas dentro dessas categorias. Do ponto de vista das marcas, existe uma oportunidade de fidelização da base de clientes ainda maior do que só a aquisição deles”, afirma Livia Moura.
“Isso só confirma aquela hipótese que tínhamos da resiliência do mercado de luxo durante e após a pandemia. Mesmo em setores amplamente prejudicados, como o de hotéis, vemos uma recuperação acelerada e até maior do que se via em 2019”, complementa Karla.
No segmento de moda também houve uma mudança relevante: as marcas de luxo trazem o que é mais quente para o Brasil, sendo desnecessário buscar os itens pessoais lá fora. “É algo perene, assim como as aeronaves privadas. Com a mudança na regulamentação do compartilhamento de propriedade, a pessoa que experimenta, coloca a barra em um novo patamar”, diz a especialista.