Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 23/11/2023

Editoria: Sem categoria
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Economistas alertam para quadro de mais inflação

Economistas da Argentina avaliam que uma medida anunciada pelo governo do presidente Alberto Fernández esta semana tende a amenizar o problema de desabastecimento de alguns produtos, mas ao mesmo tempo deverá atear mais fogo na pressão inflacionária. Em termos anuais, a inflação na Argentina já passa dos 140%.

Antes das eleições presidenciais, Fernández havia apostado em uma medida transitória: congelar por algumas semanas preços regulados (de luz, água, gás, transporte e outros).

Os preços não regulados – alimentos, bebidas, itens de higiene e limpeza e outros – foram objeto de um acordo entre governo, fabricantes e varejistas e também foram mantidos.

Fernández prorrogou a contenção dos preços até o dia 10, data da posse de Milei, mas abriu brechas para alguns aumentos imediatos de 5% a 12%.

Com os controles de preços, alguns produtos vinham sumindo das prateleiras porque para varejistas a margem de ganho tinha ficado espremida demais e não valia a pena vender alguns desses itens. Com a flexibilização, cai o risco de desabastecimento, uma vez que alguns preços voltaram a subir.

“O que estamos vendo é o começo de uma reacomodação dos preços” diz Santiago Manoukian, economista chefe da consultoria Ecolatina, em Buenos Aires. O outro lado desse movimento, no entanto, é óbvio. “Esse é um elemento que vai pressionar mais a inflação.”

Manoukian lembra que a inflação mensal de outubro fechou em 8,3%, o que representou um certo alívio na comparação com a alta de setembro.

Mas, nos primeiros dias de novembro, os sinais apontavam para uma alta novamente de 12% aproximadamente, diz ele.

O economista considera um cenário ainda pior para o fim deste ano e início do próximo.

“A inflação mensal entre novembro e março [de 2024] poderá ficar em cerca de 15%. Isso vai afetar o consumo ainda mais. Será um ano difícil, ainda mais porque, pelo sexto ano seguido, os salários estão sendo reajustados abaixo da inflação”.

Javier Milei, um ultradireitista com discurso pró-mercado – eleito no segundo turno das eleições presidenciais no domingo -, se diz contrário a qualquer instrumento para segurar os preços. Mais reajustes são esperados logo no início de seu mandato.

Milei e Fernández tiveram na terça-feira uma primeira reunião, dando o início formal ao processo de transição.

A inflação mensal entre novembro e março poderá ficar em cerca de 15%”
— S. Manoukian

Além do ajuste na política de preços que dura até transmissão de poder, o governo Fernández ajustou também uma regra na política cambial.

Vivendo uma forte escassez de dólares, a Argentina conviveu com um câmbio oficial congelado em cerca de 350 pesos por dólar durante várias semanas antes das eleições presidenciais.

Nos últimos dias, uma mudança a conta-gotas tem levado à desvalorizando a moeda local, que ontem para cerca de 356,45.

As cotações paralelas passam dos 1.000 pesos por dólar.

Sob os ares da transição, a medida desta semana foi voltada para todos os exportadores. Até então, 70% do que elas recebiam por suas vendas ao exterior era internalizado com a cotação oficial, desfavorável para que exporta. Os 30% restantes eram feitos com uma cotação mais vantajosa, pelo chamado dólar financeiro (CCL), que fechou ontem em 926 pesos. Com a mudança, o governo mudou a fórmula para 50% a 50%.

Ainda é cedo, na avaliação de alguns economistas, para dizer se a novidade terá algum efeito no incremento das reservas internacionais da Argentina.