A rede global de fast fashion Shein emprestou US$ 20 milhões (equivalente a R$ 100 milhões) para a Santanense, com fábrica em Itaúna, na região Centro-Oeste do Estado. A empresa faz parte da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), que também possui planta em Montes Claros, no Norte de Minas.
O empréstimo visa recompor o capital de giro da companhia e é conversível em ações. O vencimento da dívida está previsto para junho de 2026 e prevê o pagamento de juros anuais.
As informações estão no balanço de 2022 da Coteminas, divulgado na semana passada, com sete meses de atraso. No documento, a empresa informa que atrasou a divulgação de suas demonstrações financeiras por conta do atraso na conclusão dos trabalhos de auditoria da controlada Springs Global US. Inc.
O contrato de empréstimos entre a Shein e a Coteminas, que controla duas empresas que atuam no setor têxtil: Companhia Tecidos Santanense e Springs Global Participações S.A., foi concluído em julho deste ano.
Com 85% de seus empréstimos bancários vencendo ainda em 2023 e com recuo de 30% na receita no ano anterior, a Coteminas iniciou uma renegociação de dívidas com instituições financeiras. E as subsidiárias solicitaram “waiver” (um perdão temporário com pagamento adiado) aos detentores de debêntures.
Shein no Brasil e relação com a Coteminas
Em junho deste ano, a varejista sediada em Singapura anunciou a produção de peças de vestuário no Brasil em uma fábrica localizada em Macaíba, no Rio Grande do Norte, da Coteminas.
Na ocasião, o presidente da empresa chinesa para o Brasil e América Latina, Marcelo Claure, ressaltou que o início da produção faz parte de um compromisso assumido pela empresa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Viemos aqui com a governadora Fátima porque estaremos iniciando agora no mês de julho a produção de peças do vestuário para o mercado doméstico nacional, brasileiro, e para toda a região através do Rio Grande do Norte”, afirmou o presidente da Coteminas, Josué Gomes, na ocasião.
Conforme publicado, a Coteminas, inicialmente, será a responsável pela produção das peças de vestuário, em sua fábrica de Macaíba (RN). Essa fábrica será a “integradora” do trabalho, sendo abastecida pelo trabalho de outras oficinas de costura, que estarão espalhadas pelo estado do Rio Grande do Norte.
Josué Gomes acrescenta que a produção brasileira na Coteminas vai começar com produtos jeans, de brim e malhas de algodão.
Marcelo Claure, da Shein, ressaltou que o início da produção faz parte de um compromisso que foi assumido pela empresa com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A empresa afirmou ao governo Lula que vai abrir cerca de 2 mil fábricas no Brasil, empregando cerca de 100 mil pessoas.
O executivo ainda complementou que serão investidos nesse processo US$ 150 milhões no processo de financiamento das fábricas e também para treinamento de pessoal.
“É parte de um processo de trocar a fabricação na China e trazer essa fabricação para o Brasil”, afirmou o executivo da varejista chinesa.
Marcelo Claure afirmou, em junho, que a peça de roupa fabricada no Brasil pela Shein pode custar o mesmo ou ser até mais barata que a peça de roupa importada da China hoje.
“O Brasil tem tudo, tem a matéria-prima, o algodão, o poliéster e o jeans”, disse na ocasião, na recém-inaugurada sede da Shein no País, na avenida Faria Lima, zona oeste de São Paulo, endereços de bancos e multinacionais. “Meu sonho é que tenhamos designers brasileiros, tecidos brasileiros, fabricação brasileira e a venda dos produtos em todo o mundo. Estamos perto de conseguir isso.”
Prejuízo
Em 2022, a Coteminas contabilizou prejuízo de R$ 670 milhões, valor mais que quatro vezes maior que o apurado em 2021.
O auditor independente que assinou as demonstrações financeiras de 2022 da companhia considerou que há “incerteza relevante relacionada com a continuidade operacional” e acrescentou que o grupo vem “desenvolvendo negociações para recomposição de seu capital circulante líquido”.
A reportagem procurou a Shein e a Coteminas. A primeira informou que as informações sobre o empréstimo estão previstas nas demonstrações financeiras da companhia brasileira. Já a Coteminas não se manifestou até o fechamento da edição.