Diante do recuo maior que o esperado em atividades econômicas, sobretudo em serviços, economistas estão revisando para baixo as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano em comparação ao período imediatamente anterior. Os ajustes são pequenos, mas confirmam a tendência de desaceleração gradual da economia no terceiro trimestre. Analistas projetam variação entre zero e queda de 0,5% para o PIB do período. Até então, parte das projeções era de um pequeno crescimento de até 0,3% e queda entre 0,2% e 0,3%.
A atividade econômica desacelerou em agosto, com recuo de 0,77% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) na comparação dessazonalizada com julho, dado divulgado ontem. O indicador, conhecido como “prévia do PIB”, veio abaixo de -0,65% esperado pelo mercado, conforme mediana elaborada pelo Valor Data junto a 24 instituições financeiras e consultorias.
Diante do movimento dos setores da economia em julho e agosto, para Claudio Considera, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), o desempenho do PIB no terceiro trimestre “pode ser até positivo”. “Não necessariamente vai ser negativo, mas ligeiramente negativo ou ligeiramente positivo”, diz.
Enquanto o efeito do safra recorde de soja para a economia se dissipa e a indústria de transformação segue com desempenho sofrível, a indústria extrativa continua colhendo bons resultados — sobretudo dos embarques de minérios para a China — e o efeito do programa Desenrola para o consumo de serviços pelas famílias não pode ser ignorado.
Um cálculo de Leal, da G5 Partners, mostra que o programa de renegociação de dívidas do governo federal pode abrir uma “carteira de crédito” de R$ 90 bilhões neste final de ano. A G5 Partners fez um pequeno ajuste em sua projeção do PIB do terceiro trimestre, de zero para -0,1%.
O recuo do IBC-Br divulgado pela autoridade monetária ontem reflete o desempenho mais fraco dos setores de serviços e comércio evidenciado pelas pesquisas mensais do IBGE, que também foram divulgadas nesta semana. Serviços recuou 0,9% em agosto sobre julho, e o varejo ampliado caiu 1,3, dados com ajuste sazonal.
Segundo Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, a surpresa da semana ficou por conta da queda em serviços, abaixo do piso das projeções de 24 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, que iam de -0,8% a +0,8%.
O BNP Paribas não deve revisar a estimativa de PIB para o terceiro trimestre, projetada em -0,3%, porque a visão do banco já era um pouco menos otimista que a média do mercado para o período, disse a economista. “Achávamos que o terceiro trimestre seria pior do que o último do ano porque, apesar da trajetória de queda da Selic, os juros ainda são altos para impactar comércio e serviços”, disse Carvalho.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter, diz que a expectativa de -0,2% projetada para a atividade econômica no terceiro trimestre ganhou viés de baixa. Mas o dado está em avaliação e será divulgado na próxima semana. “O sentimento no mercado está um pouco mais negativo por conta dos reflexos do cenário externo para os juros”, disse. Segundo ela, o cenário externo se deteriorou e os juros futuros voltaram a subir no país, o que pode afetar tomada de crédito e consumo.