Veículo: Valor Econômico - Online
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Data: 25/10/2023

Editoria: Sem categoria
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Analistas preveem resultados ainda fracos no trimestre

Com um cenário externo ainda difícil, que pesou sobre câmbio e juros, a temporada de resultados do terceiro trimestre deverá refletir o desempenho relativamente fraco das companhias de capital aberto neste ano.

 

O momento ainda instável da economia brasileira continua prejudicando as empresas voltadas para o mercado doméstico. Já as companhias que lidam com as chamadas commodities – minério de ferro e petróleo, por exemplo – devem se beneficiar de preços melhores dos seus produtos e da desvalorização do real.

 

Em termos macroeconômicos, os juros em patamares historicamente altos nos Estados Unidos acabaram prejudicando as perspectivas no Brasil. “Há uma correlação clara entre a nossa curva de juros e a americana”, diz Jennie Li, estrategista da XP. Essa correlação, diz, tem reflexos no resultado financeiro das companhias.

 

O dólar também voltou a subir nos últimos meses, saindo de R$ 4,80 no fim de junho para R$ 5,02 no fim de setembro, uma alta sequencial de 4,6%. Na comparação anual, houve queda de 5,6%. Companhias que trabalham com produtos para exportação se beneficiam, mas aquelas que têm dívidas e custos atrelados à divisa americana devem continuar sentindo impacto cambial, explica Li.

 

“Acho que podemos ter um efeito negativo da volatilidade do dólar nos resultados das companhias, em especial naquelas que usam contratos de hedge [proteção cambial]”, comenta Pedro Serra, analista-chefe da Ativa Investimentos. “Essa é uma variável importante, não acho que será algo muito relevante, mas o investidor tem que ficar ciente disso.”

 

As empresas produtoras de commodities, em especial minério de ferro e petróleo, devem apresentar resultados robustos nas próximas semanas, alçados pela alta dos preços ao longo do período entre julho e setembro. Nesse intervalo, o minério de ferro subiu 24,7% na comparação anual, enquanto o barril do Brent avançou 8,3%. Na comparação com junho, a alta é de 7,2% e 22,2%, respectivamente.

 

A Vale já divulgou seus números operacionais, com produção de 86 milhões de toneladas de minério de ferro e vendas de 81 milhões de toneladas. Analistas disseram que os resultados vieram dentro do esperado, o que deve gerar um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização em torno de US$ 4,6 bilhões, sustentado pela melhor qualidade do produto e preços mais altos na comparação anual.

 

A Petrobras também antecipou alguns números de produção, com um crescimento de 7,8% no processamento de petróleo e gás, sustentado pelo bom desempenho dos campos de pré-sal, com margens maiores e menores custos de extração, o que deve gerar crescimento de margens e geração de caixa. A companhia divulga seu relatório de produção e vendas nesta quinta-feira (26).

A China está jogando muito aço barato no mercado externo”

— Pedro Serra

 

No caso das siderúrgicas, no entanto, expostas ao mercado interno de aço, os resultados devem ser mais fracos. Em relatório, o Citi diz que o volume de vendas deve manter certa estabilidade na comparação com o segundo trimestre, mas o aço teve queda de dois dígitos nas suas cotações. Fabricantes de papel e celulose, como Suzano e Klabin também não terão um trimestre fácil, por causa de preços menores.

 

“A China está jogando muito aço barato no mercado externo, em decorrência dos problemas do setor doméstico interno, o que acaba diminuindo o preço médio do metal”, diz Serra. Nas empresas brasileiras, ainda há o fator que a demanda pelo aço não dá sinais de recuperação. “A Gerdau pode ser o ponto contrário, já que têm um negócio de vergalhão mais robusto e diversificação geográfica”, afirma.

 

Já empresas que atuam no setor doméstico devem ter resultados na mesma linha dos últimos trimestres. A atividade econômica ainda fraca, prejudicando o consumo, além de custo de dívida elevado, devem corroer os ganhos dessas companhias. Setores como o de saúde e educação podem ter melhorias pontuais, ajudadas por base de comparação mais fraca.

 

“O varejo ainda deve ter resultados fracos, com um cenário macro bem difícil no Brasil, mas pode ser que tenhamos sinais de inflexão no setor, com uma base de comparação melhor por vir e também controle de custos”, comenta Jennie Li. Setores como o varejo de alta renda e farmácias devem ser destaque positivo. A inadimplência pode melhorar.

 

Em relatório recente, o BTG Pactual afirmou que a correlação entre o varejo e o desempenho macroeconômico é evidente. Apesar da expectativa de resultados mais fracos do que o esperado na comparação com as expectativas do início do terceiro trimestre, esforços de redução de custos devem impulsionar as margens. A pressão dos resultados financeiros, no entanto, prejudicará o lucro do setor.

 

Educação e saúde podem ter resultados melhores, muito por causa de uma base de comparação mais fraca, afirma o analista-chefe da Ativa. No caso de educação, a captação de novos alunos deve ser boa e o tíquete continua crescendo, conforme os últimos trimestres. Em saúde, por sua vez, operadoras devem ter sinistralidade e prestadoras podem ver melhores tendências operacionais, diz Serra.

As distribuidoras de combustíveis também podem ter melhores tendências operacionais, após resultados recentes fracos, apoiadas na melhoria dos preços da gasolina e diesel, além da menor importação de produtos da Rússia. As margens podem aumentar e as grandes empresas vão ganhar mercado em cima de empresas menores, por terem maior poder de precificação.